9º DIA – 27.09.2008 –
Sábado
(CHILE: San Pedro de Atacama: Salar do
Atacama, Laguna Chaxa e Laguna Ceja)
Acordamos
quase às 8 h e tomamos o café complementado com as compras que fizemos ontem (queijo,
presunto, frutas e suco). O hotel servia queijo, pão, leite e café.
Pegamos os mapas e
seguimos para o Salar de Atacama, onde
fica a Laguna Chaxa. Compramos a
entrada e uma guia, a Roxane, nos convidou a assistir a um vídeo explicativo
sobre o local.
Aceitamos e assistimos
numa sala bem montada, quase um oásis naquele desertão todo. Foi ótimo, pois
pudemos conhecer sobre as aves locais, principalmente os flamingos, que são de
três tipos (andino, chileno e james), cada espécie com sua peculiaridade, além
de outras aves e animais da região, como o lagarto, o rato verde e a raposa (zorro,
em espanhol).
Para a nossa surpresa,
há vegetação na lagoa, motivo pelo qual os flamingos não saem dela e comem por
dezessete horas do dia. O alimento principal é um tipo de organismo que, adulto,
chega a 1 cm
de comprimento. Parece um filhote de peixe de aquário e é rico em caroteno, o
que deixa as penas daquelas aves rosadas e lindas.
Sal com o caroteno
é o que deixa as penas dos flamingos rosadas - Chile
Salar de
Atacama - Laguna Chaxa - Chile
O flamingo só põe um ovo
por ano e é monogâmico.
Há um lençol freático
sob a salina, que é alimentado pelo degelo dos Andes. A água doce se infiltra
no solo e alimenta a lagoa salgada, mas elas não se misturam.
Após o vídeo, seguimos
com a guia por uma trilha onde vimos a formação da matéria orgânica que é o
alimento dos flamingos, numa miniatura de lagoa salgada. Vimos o alimento que se
parece com filhote de peixe e as moscas que depositam ovos na água e que servem
de alimento para os girinos.
Há uma cadeia alimentar
num local aparentemente desértico e inóspito.
Seguimos e vimos alguns
flamingos e outras aves. Estamos na primavera e eles estão eufóricos para acasalar,
porém o filhote só vem em
janeiro. O ninho é construído na lagoa salgada, com o sal.
Flamingos
Andinos na Lagoa Chaxa - Deserto do Atacama - Chile
Como
o visual no local é um espetáculo! É um zoológico a céu aberto, sem contar as
montanhas e os vulcões que compõem os Andes.
Um dos três vulcões que
avistamos, dos 150 que há no Chile, o Lascar, tem entrado em erupção todos os
anos desde 2003. Em 2007 as cinzas dele chegaram até a Argentina.
Foto de uma
das erupções do vulcão Lascar
Vimos alguns picos ainda
nevados. Eram mais de 13 h. O sol era fortíssimo, porém sem muito calor. Mas como
queima a pele! Chapéu, óculos escuros e camisa de manga longa são
imprescindíveis.
Voltamos à base, comemos
numa área própria com mesas e bancos, saboreando todo esse visual maravilhoso.
Estávamos de saída
quando conhecemos um casal de brasileiros, a Aura e o Peter, cariocas que moram
em Friburgo (RJ) e trabalham em Macaé (RJ), para a Petrobrás.
Assim como nós, vieram
do Brasil (Rio de Janeiro) numa caminhonete, só que sem turbo, o que, segundo
eles, dificultou a subida dos Andes. O comportamento dos veículos em grande altitude
é ruim se não tiver um motor potente.
Trocamos informações sobre
alguns passeios locais e deixamos que eles seguissem o deles.
Fomos
para a Laguna Ceja, para tomarmos banho
salgado, no retorno a San Pedro de Atacama, uma dica da Roxane.
Pela dica dela foi fácil
achar o local. Quando chegamos, não havia ninguém, o que me levou a achar que
nem era tão badalado.
A água era de um verde lindo,
cercado por crostas de sal. Resolvemos entrar, apesar de a água estar meio
fria.
Laguna
Cejar – No meio do Salar de Atacama, salgadíssima e fria - Chile
A sensação de não
afundar é impressionante! Pela quantidade imensa de sal não afundamos, mesmo
que queiramos. Chega a incomodar o sal, o que nos fez sair logo da água.
Impossível
afundar pela concentração de sal na água - Chile
O pior é quando saímos
da água, pois rapidamente a pele desidrata e se forma um pó de sal que dá a
maior aflição.
Corremos para o carro
para tomar banho com a água doce que tínhamos levado da pousada. Essa dica nós já
tínhamos, de que a água doce era imprescindível caso fôssemos entrar na água.
Logo que tiramos o sal e
trocamos de roupa chegou um cara de bicicleta. Era um brasileiro, também do Rio
de Janeiro (RJ). Ele veio de San Pedro de Atacama e aguardava a namorada, que
vinha com um grupo numa van.
Logo depois, chegaram
mais quatro carros cheios de turistas, todos para fazer o que tínhamos feito.
Foi a maior surpresa para um lugar imaginado de pouca procura.
Voltamos para a cidade,
tomamos banho, lavamos roupa, fiz sanduíches para as trilhas e saímos para
jantar.
Como a mudança de
temperatura é radical aqui, pulando de 30º C ao meio dia para 10º C à noite e 4º
C no amanhecer.
Jantamos no Restaurante
La Casona , perto do hotel, na Calle Caracolles, uma dica da Aura e do
Peter.
Quando entramos no
restaurante, para nossa surpresa, eles estavam também lá. Jantamos juntos e
tomamos um vinho sugerido por eles, de uva pinot
com cabernet, bem gostoso.
Comemos uma cena (jantar
em espanhol), composta de sopa de entrada, prato principal e sobremesa. A
comida estava boa, num ambiente climatizado por uma lareira e com um bom preço.
Descobrimos que o Peter,
com perfil aventureiro, já tinha ido de Porto Seguro (BA) a Prado (BA), a pé.
Imagina!
Voltamos para o hotel e
agora é dormir.
Acréscimos do Marcio
A cena que comemos no Restaurante La Casona era uma espécie de
pacote turístico gastronômico, pois contemplava todas as etapas da refeição
(entrada, prato principal e sobremesa) por um preço atraente. Custo-nos CH$
6.000,00/pessoa, um pouco mais que US$ 10,00.
O casal de brasileiros estava viajando numa pick-up Toyota
SR-5, motor 2.8 aspirado. Disseram que o carro se arrastava para andar nas
grandes altitudes, com falta de força no motor.
Além disso, contaram que as autoridades chilenas encrencaram
com o quebra-mato que tinham instalado no carro, pois aqui ele não é permitido.
Ainda bem que pesquisei a legislação de trânsito e consultei as embaixadas,
retirando o meu mesmo equipamento antes da viagem.
Os ingressos para as duas lagunas custaram CH$ 2.000,00 (US$
3,78) por pessoa em cada uma delas.
A dica de levar água doce para o banho na Lagoa Ceja foi das
pesquisas que fiz antes da viagem. Vale a pena planejar!
10º DIA – 28.09.2008 –
Domingo
(CHILE: San Pedro de Atacama: Salar de Tara, com Vulcão Licancabur
e Salar de Águas Calientes)
Acordamos às 6h30 e, conforme
combinado com a Mari, funcionária do hotel, tomamos café às 7h30, meia hora antes
da norma do hotel, devido ao nosso passeio que iniciaria às 8 h. Essa
flexibilidade eu achei legal por parte do hotel.
Às 8h15 uma van veio nos pegar, e já tinha um casal
dentro, o Tiago e a Luciana, brasileiros de São Paulo. Seguimos com o Ivan,
motorista e guia, para pegar outro turista, a Graziela, uma brasiliense maratonista,
que tinha ido a Buenos Aires participar de uma corrida de 21 Km.
O caminho para o Salar de Tara é pela mesma estrada por onde chegamos a San Pedro de
Atacama, pelos Andes, pelo Paso de Jama.
Como quando passamos por lá já estava escuro, não vimos as principais atrações
turísticas.
Paramos em frente ao vulcão Licancabur, com seus mais de 5 mil metros de altura.
Vulcão Licancabur - Inativo, com mais de 5.000 m de altura - Chile
Na parada, encontramos
com o casal carioca que conhecemos ontem na Lagoa
Ceja (o ciclista e a namorada). Eles iam passar três dias na Bolívia, num
ônibus de agência de turismo, para conhecer uma área bem próxima. Aliás, a 5 Km
dali já é Bolívia, mas uma região fora dos conflitos atuais.
Seguimos para o Salar de Tara e no caminho, ainda no asfalto, vimos lagoas verdes,
uma delas já na Bolívia. Vimos um riacho formado pelo degelo e uma lagoa ainda com
uma crosta de gelo.
Laguna Verde, chilena, ainda com água
congelada. Que vento frio!!!!! - Chile
Em cada parada para fotos o frio era cada vez
mais intenso, acentuado por uma ventania forte. Vimos gansos chilenos e
vicunhas (animal parecido com as lhamas).
Saímos do asfalto e pegamos uma estrada de terra,
onde começamos a ver pequenos morros, estreitos mas altos, talhados pela ação
do vento. Eles se pareciam com as pedras do Grand Cânion, em miniatura. Lindo
o local!
Seguimos mais por estradas cada vez piores, com
costelinhas.
O Salar de
Tara, na verdade, inclui uma área dessas pedras formadas pela erosão eólica
e uma lagoa salgada, onde tem flamingos.
O motorista Ivan nos deixou num ponto alto, onde
começavam umas formações rochosas chamadas de catedrais, combinando de nos encontrarmos
mais abaixo num ponto de apoio, uma casinha, para almoçarmos. O grupo foi descendo
e se maravilhando com o visual.
Catedrais e o Salar de Tara ao fundo -
Chile
Próximo à casa, na beira do lago salgado, vimos
um grupo de lhamas. Como se parecem com camelos, pela cabeça e pelo ruminar, e com
ovelhas, pela pelagem e pela forma das fezes.
Fomos recebidos na casinha pelo Ivan, já com o
almoço, feito enquanto caminhávamos pelas catedrais.
Comemos salada com frango e pão. Tudo gostoso! Tinha
também água quente para chá e café. A bebida quente foi ótima, diante daquele
gelo em que estávamos.
Almoço com os brasileiros no Salar de Tara
- Chile
Após o almoço, fui até a lagoa para fotografar
os flamingos. É impressionante como comem! Estão o tempo todo com a cabeça
abaixada na água comendo.
Flamingos no Salar de
Tara - Chile
Como senti os efeitos da altitude! Desde que
começamos a subir, minha cabeça apertava e doía. Afinal, estávamos o tempo todo
a mais de 4 mil metros de altitude. A piora é pela temperatura baixa e pelo vento,
que resseca tudo, principalmente o rosto, além de congestionar o nariz. Dentro
da casa de apoio tinha até uma fogueirinha para esquentar.
Encontramos, também almoçando, um grupo de
turistas num Toyota Rav 4 e numa pick-up Mitsubish novinha. Eles eram de um
hotel top de San Pedro de Atacama, que cobra uma fortuna para esse passeio, só
para estarem em grupos menores. A diferença é de CH$ 35 mil para CH$ 250 mil
por pessoa. Só para quem ganha em euro!
Retornamos à cidade e ainda passamos na Laguna de Águas Calientes, outro ponto
de água verde, também muito bonito.
Laguna de Águas Calientes
- Frio demais!! - Chile
Chegamos à cidade antes das 17 h. Foi bom, pois
amanhã teremos que acordar às 3 h para irmos ao Gêiser de El Tatio. Teremos que dormir bem cedo, pois a operadora
nos pegará às 4 h.
Lavamos mais roupa. O Marcio foi antes a uma
lan-house, e jantamos outra vez no Restaurante La Casona ,
pois o custo x benefício para um ambiente legal, com aquecimento e cena, é
muito bom.
Tomamos outro vinho, desta vez um cabernet da marca
Cremashi Furlotti. Muito bom! Para a entrada, optamos por uma sopa de
legumes. De prato principal, eu comi um espaguete com salmão e o Marcio comeu fetuttine
com vegetais. A sobremesa foi uma torta de pêra. Tudo muito bom!
Logo depois de chegarmos, o restaurante encheu
com gringos, acho que todos franceses e em grupos grandes.
Voltamos para o hotel às 21 h para dormir cedo.
Acréscimos
do Marcio
O gerente da lan-house
era um peruano que estudou no Brasil e já tinha até morado em Brasília. Por isso,
falava perfeitamente o português e foi fácil nos entendermos.
O teclado dos computadores por aqui é um
pouco diferente, pois tem que contemplar o “ñ”, não tem o til e o arroba (@) é
obtido com uma combinação teclas.
No retorno do passeio pudemos ver a neve
caindo sobre o vulcão, mas tudo à distância. Onde estávamos nada aconteceu,
apesar do frio grande que fazia.
11º DIA – 29.09.2008 –
2ª feira
(CHILE: San Pedro de Atacama: Gêiser de El Tatio, City Tour
e Vale da Lua)
Acordamos às 3h20. O
Marcio conseguiu fazer suas necessidades e tomou banho; eu nem tentei.
Às 3h50 estávamos em frente ao hotel aguardando
o transporte para o Gêiser de El Tatio.
Estava 2º C e nós vestíamos um verdadeiro guarda-roupas ambulante. Eu estava
com duas ceroulas, uma calça comprida, duas meias, duas camisas de manga, um
agasalho de tricô e um casacão bem grosso com capuz, um xale de lã de lhama,
luvas e gorro.
Impaciência de esperar
empacotada, no frio e de madrugada!
O transporte não chegava. Víamos várias vans
passarem, e nada da nossa. Eu comecei a entrar em pânico, achando que eles não viriam
nos pegar.
Só chegaram perto das 5 h da manhã. O
motorista-guia, Danilo, pediu desculpas pelo atraso. Entramos numa van pequena
e que lotou conosco.
Eu comecei a ficar meio mal, com aquele monte de
roupa, apertada na última fila do carro, com dois marmanjos com cara de Che ao lado, num caminho escuro, cheio
de curvas e cada vez mais gelado. Só fui melhorar quando foi amanhecendo e
pudemos ver a água dos rios congelada, os picos nevados e as aves com as
canelas presas na água congelada dos riachos, aguardando o degelo.
Fui fazendo amizade com os dois do lado e
descobri que eram de Santiago.
Para compensar o atraso na saída, o guia foi por
um atalho nas montanhas. Notei que estávamos aumentando a altitude por causa da
minha cabeça, que estava apertando e doendo. O frio foi aumentando a ponto de as
janelas da van ficarem com uma crosta de gelo por dentro (o embaçado congelava).
Quando chegamos ao local já era mais de 6 h. Lá
estava a -8º C. Inacreditável, pois nunca pegamos uma temperatura tão baixa assim.
Com toda a roupa que eu estava ainda foi pouco.
- 8° C era a temperatura no local do Gêiser de El
Tatio quando chegamos às 6 h
Compramos a entrada para a visitação por CH$ 3.500,00
(US$ 6,63)/pessoa e seguimos para a área dos gêiseres. Na verdade, não há o Geiser de El Tatio, mas um complexo de gêiseres.
Vimos fumaça saindo do chão, semelhante ao
encontrado por nós na cidade de Rotorua, na Nova Zelândia, com a diferença de
que aqui estávamos numa altitude de mais de 4.000 m .
Descemos do carro e fomos passear na área dos gêiseres.
Vimos alguns entrando em erupção, jorrando água fervendo, e outros apenas
expelindo gases. O cheiro de enxofre era forte.
O cheiro de pum é
terrível! - Chile
A água fervendo
congelava ao escorrer pelo chão no ambiente abaixo de zero grau.
A água fervendo e
congelando ao escorrer pela terra - Chile
Gêiser de El Tatio é toda
essa área com fumaça - Chile
Quando retornamos para a van, na hora combinada,
um café da manhã nos aguardava, semelhantemente ao almoço de ontem. Tivemos o
prazer de tomar café neste lugar paradisíaco. Havia leite, café, chocolate,
sanduíche de queijo com presunto e ovo cozido na própria água dos gêiseres, a
80º C.
“Breakfast” no altiplano, com 0º C e ovo cozido na água fervendo dos gêiseres
Seguimos para o banho termal numa piscina
natural, com água em temperatura que variava de 20º C a 40º C.
Logo que o sol ia subindo já ficava mais quente.
Quando vi a água quente, não demorei e tirei toda a roupa, ficando exposta àquele
frio.
Muita
coragem para tirar a roupa com a temperatura de - 8º C
Clênia vestia todo seu guarda-roupa de frio
Caí na água que, inacreditavelmente, estava
gostosíssima.
Aqui
está bem melhor, com a água em torno de 33º C
O perigo era quando os pés encostavam na areia
do fundo, pois dava para sentir os grãos bem quentes, a ponto de queimar. No
local é recomendado cuidado com queimaduras, pois é água com atividade
vulcânica e possui muito enxofre. Por isso, é para ficar, no máximo, 20 minutos
no banho.
Quando eu ia sair o Marcio resolveu entrar, e
adorou. O contraste de temperatura da água e do ar é tão grande que tem fumaça
na superfície.
Levantar
e sair da água para pegar a toalha era terrível!
Saí e, com auxílio da toalha, deu para trocar de
roupa ali mesmo, junto com todos.
No trajeto de volta, vimos a fauna e a flora
local, conhecendo outro tipo de animal, o guanaco, da mesma família das lhamas
e das vicunhas, que também são endêmicos daqui e de altitudes superiores a 3.000 m . Parecem um bambi e,
diferentemente da vicunha, não têm a cabeça preta.
Guanaco - outro camélido
dos altiplanos
Foi um passeio
sensacional!
Chegamos ao hotel quase ao
meio-dia. Tiramos a poeira das coisas e fomos almoçar no Restaurante Adobe, dica da brasileira Graziela, que conhecemos
ontem. Muito bom! Ambiente agradável, comida boa e tinha até Wi-Fi grátis para
quem levasse seu laptop.
Enquanto ficamos lá, consultamos
a internet e conversei com três amigos no mensager.
É outra coisa depois do advento da internet! Encurta tudo. É muito bom!
Comemos um risoto de
cogumelos e tomate adocicado, feito com um alimento típico daqui, o quinoa,
parecido com arroz e que o substituía no prato. Eu tomei pisco-sour, uma bebida típica, que parece feita com cachaça, limão
e soda, com o copo decorado com açúcar nas bordas.
Almoço com risoto de
quinoa e pisco-sour no Restaurante Adobe, em San Pedro de Atacama
Voltamos para o hotel. Eu fui passear pela
cidade, enquanto o Marcio “afiava a sua organização”.
Fui ao Museu
Arqueológico Gustavo Le Page.
Museu Gustavo Le Page –
San Pedro de Atacama - Chile
Lá, pude ver toda a história das civilizações que
andaram por aqui desde 40.000 anos atrás, passando pelos atacamenhos, pelos
incas e pelos espanhóis. Vi a influência na cerâmica, nos metais (cobre e ouro)
e na economia, que envolvia a produção e o comércio dos tecidos feitos a partir
dos animais locais, a lhama e a vicunha.
Esses animais, conhecidos como descendentes de camelos,
datam de mais de 5 mil anos na região e foram domesticados pela necessidade de
descer das altas altitudes com -20º C no inverno rigoroso, e também para ter
garantido o leite.
Foi bem produtiva a visita, sem contar que a
estrutura surpreende, pois no meio do nada é possível existir um acervo tão
rico e bem organizado. Ponto para os chilenos!
Vi a igreja da cidade,
que é do século XII, só por fora, pois estava fechada. Aqui no Chile não fazem a
siesta, como na Argentina, mas não sei por que não estava aberta.
Igreja de San Pedro de Atacama - depois
dos espanhóis - Chile
Como tem cachorro nas ruas, assim como em todos
os outros locais pelos quais passamos na viagem até agora! Acho até que alguém
já tinha comentado isso conosco.
Fui ver o artesanato
local, mas não vi nada demais. Voltei para o hotel e fomos ver o meu vale, o Valle de La Luna.
Foi uma pena, pois já
estava sem sol. Ele se pôs logo que chegamos, por volta das 18h30.
O visual de lá é demais!
Dava para fazer qualquer filme com tema extraterrestre. Têm pedras que sofreram
a ação do vento e assumiram umas formas bem diferentes, além das dunas que existem
no local.
Pôr do sol no Vale da Lua
de San Pedro de Atacama - Chile
Como tinham pessoas lá! Todos para ver o pôr do
sol.
Turistas no pôr do sol do Vale da Lua -
Chile
Descemos a duna e visitamos uma caverninha
próxima. Já era noite e eu fiquei com um pouco de medo.
Quando voltávamos para o
carro, parte das pessoas que estavam na duna ia para a caverna. Doideira, uma
vez que têm pontos apertados para que aquele monte de gente passasse.
O céu estava
estreladíssimo. Aqui é um dos melhores lugares do mundo para observação de
estrelas e planetas.
Voltamos para o hotel e
comemos sanduíche aqui mesmo.
Agora é dormir. Afinal,
acordamos às 3 h.
Acréscimos
do Marcio
Realmente, o atraso da
empresa para nos pegar no hotel foi preocupante, pois víamos vários transportes
passando por nós, sem que nenhum deles parasse para nos pegar.
Após o retorno do passeio, e após o
almoço, fiquei no hotel revisando este diário, pois ainda não tinha feito nada
até o momento. Como não estou habituado a operar o note book (sem mouse e com o
teclado um pouco diferente do meu), tudo fica mais lento.
O passeio ao gêiser poderia muito bem ter
sido feito no nosso carro, pois tudo é muito bem sinalizado. Como não sabíamos
disso, e não queríamos/podíamos arriscar perder tempo, contratamos logo no dia
da nossa chegada ao povoado.
Para entrar na área onde fica o Valle de La Luna pagamos CH$ 4.000,00
(US$ 7,58)/casal. O local estava lotado de turistas, que vão ver o pôr do sol,
semelhantemente ao que acontece nas dunas de Jeriquaquara, no Ceará.
É interessante como nesta semana a cidade
está cheia de estudantes, como se fossem férias escolares. Será que no Chile as
férias são em período diferente do nosso?
No passeio ao gêiser conhecemos também
uma senhora chilena, cujo nome, coincidentemente, era Sônia Farias, o mesmo da
mãe da Clênia. Ela mora há quarenta anos na Califórnia - EUA e adora aventuras,
já tendo visitado, inclusive, o Monte Kilimanjaro.
Uma coisa interessante por aqui no Chile
é que aquela sinalização de trânsito PARE realmente é obedecida ao pé da letra
(como deveria ser no Brasil). Todos efetivamente param na esquina onde ela
existe, independentemente de se poder ver que não vem nada do outro lado. Igual
comportamento ocorre nas passagens por via férrea, no famoso PÁRA-OLHE-ESCUTE. Todos
param mesmo.
12º DIA – 30.09.2008 –
3ª feira
(CHILE: San Pedro de Atacama: Lagunas Miñique e Miscanti,
Pukara de Quitor e Banhos de Puritama)
Acordei
às 7h20. O Marcio já estava acordado desde 6h30, fazendo a revisão no Diário.
Tomamos
café e seguimos para mais um dia de graças. Fomos conhecer as Lagunas Miñique e Miscanti, a 136 Km
de San Pedro de Atacama.
Quase
todo o trecho é de asfalto e subindo por curvas muito sinuosas. Depois,
passamos para uma estrada de terra.
À
medida que nos aproximávamos da área das lagunas, deparávamo-nos com vulcões e cerros,
um mais lindo do que o outro, com neve no topo. A luz do sol de alta altitude
impressiona, deixando os aficionados por fotos babando.
Fomos
a mais de 4.200 m .
Quando chegamos na área das lagunas, passamos por uma cancela onde foi comprado
o ingresso. Lá, recebemos folders
explicativos, coisa comum em todos os pontos turísticos por aqui. É tudo
organizado!
Logo
na entrada vimos um tipo de raposa, o zorro, endêmico daqui. Parece
domesticado, pois posou inúmeras vezes para nós.
Raposa nas
Lagunas Miñique e Miscanti – Deserto do Atacama - Chile
Fomos
primeiro à Laguna Miñique, porém no
trajeto passamos ao longo da Laguna
Miscanti.
O
cenário é simplesmente espetacular, pois cada laguna tem atrás um vulcão que
leva o mesmo nome delas, a água tem a cor azul-piscina, que se parece com a do
mar no Caribe. Tudo isso recheado com vistas para vicunhas e flamingos.
Na
área da Laguna Miñique não pudemos
andar pela margem, para não perturbar uma ave ameaçada de extinção, a Tagua Cornuda. Por isso, tem a
reprodução protegida por lei, o que acontece de junho a dezembro.
Laguna
Miñique – Deserto do Atacama - Chile
Já
na Laguna Miscanti, andamos bastante
pelas margens. Tirei várias fotos das vicunhas e dos flamingos, além de de um
casal de patos chilenos. Tudo deslumbrante! Posso dizer que esse é o ponto alto
daqui.
Laguna
Miscanti – Deserto do Atacama - Chile
Estava
bem frio, e o Marcio de short e camiseta. Não sei como ele estava agüentando,
pois com o vento e com a altitude, com folga estava perto de zero grau.
Laguna Miscanti – vicunha e o Marcio ao fundo, com o vulcão Miscanti ainda
nevado
Encontramos
alguns turistas franceses.
Lanchamos
às 11 h, sanduíches e sucos que havíamos levado.
No
retorno, passamos no vilarejo Socaire. Estávamos com fome e procurando um local
para o almoço.
Vimos,
então, algo parecido com restaurante, porém não tinha placa indicativa. Avistamos
um bujão de gás na lateral do prédio e uma van de turismo estava estacionada na
frente.
Paramos
e perguntamos. Confirmaram que era um restaurante, mas todas as mesas já
estavam reservadas para grupos que estavam para chegar.
Mesmo
assim, as três moças que tomavam conta do local (cozinheiras e garçonete) nos
deram abrigo e nos serviram almoço na cozinha mesmo.
Banquete na
cozinha de um restaurante de Socaire - Foi o máximo!
Comemos
enquanto elas trabalhavam. A maior aventura!
A
comida salvou a pátria. Um oásis naquele desertão, pois o vilarejo não tinha
nada.
Com
a alta altitude, desci com uma dor de cabeça insuportável. Tomei um AAS, que
aliviou um pouco.
Antes
de San Pedro, paramos para ver um ponto da Trilha
Inca ou Trilha Andina. Conosco
também parou um grupo de turistas italianos.
Trecho da Trilha
Inca – Deserto do Atacama - Chile
Chegamos
de volta à cidade, fomos ao hotel deixar algumas coisas e resolvemos ir
conhecer a Pukará de Quitor, a 3 Km
da cidade.
São
ruínas bem preservadas de uma fortaleza atacamenha e inca, onde aqueles povos
resistiram por 20 anos aos ataques dos colonizadores espanhóis. Também vale a
visita!
Pukará de
Quitor – Deserto do Atacama - Chile
Seguimos
depois para os Banhos de Puritama,
também conhecido como Termas de Puritama,
que fica no caminho para o Gêiser de El
Tatio, a 30 Km daqui.
Subimos
de novo para quase 4.000 m .
Começou tudo de novo, o aperto na cabeça.
O
caminho é bem bonito, com curvas sinuosas e estreitas, mas o local estava
fechado quando chegamos. Uma pena! Em compensação, fomos brindados com um pôr
do sol de arrepiar de lindo. Valeu!
Pôr do sol
no caminho para as Termas de Puritama – Deserto do Atacama - Chile
Chegamos de volta a San
Pedro perto das 18 h. O Marcio foi preparar o carro para partimos amanhã e eu
fui ver um artesanato local. Acabei comprando mais algumas coisas. Comprei o
arroz daqui, o quinoa, que também
pode ser comido como cereal, adicionado ao iogurte, por exemplo.
Após
o banho, fomos a uma casa de câmbio trocar dinheiro, pois o pagamento do hotel
teria que ser feito em pesos chilenos.
Fizemos
o câmbio por uma taxa um pouco superior à do dia da nossa chegada. Hoje o dólar
estava valendo CH$ 530,00, contra CH$ 528,00 de sexta-feira. Troquei US$
500,00.
Jantamos
no restaurante vizinho ao hotel, o Bendito
Desierto, por comodidade. Foi o mesmo da nossa primeira noite. O Marcio comeu
pizza napolitana e eu, de novo, lasanha de salmão. Tomei outra vez o pisco sour.
No
retorno ao hotel já fechamos a conta, e por cinco diárias pagamos CH$
160.000,00.
Arrumamos
as malas, pois amanhã deixaremos a cidade para irmos a Iquique.
Acréscimos
do Marcio
Realmente hoje eu me equivoquei ao sair de short e sandália.
No alto dos Andes, no local das lagunas que visitamos, estava um vento frio que
congelava as orelhas, o nariz e as pontas dos dedos das mãos. Mesmo assim,
resisti bravamente.
A estrada que vai de San Pedro para as lagunas é a mesma que
leva à fronteira com a Argentina, pelo Paso de Sico, a RN-23.
É impressionante como o motor do carro sofre com a altitude.
Enquanto o turbo não entra em funcionamento, o que acontece acima dos
1.800/2.000 rpm, o veículo se arrasta, quase não conseguindo sair da inércia. Depois
disso, tudo fica normal, mas percebemos com mais intensidade o ruído
característico dos motores turbinados.
Outra coisa que acontece é o esmagamento das garrafas de
água vazias quando se passa de 4.000
m para 2.000
m , por exemplo. Com o aumento da pressão externa elas
são praticamente achatadas. Percebemos que os frascos contendo algum líquido,
quando abertos depois dessa variação, jorram seus conteúdos. Pura física!!
Quando retornamos à noite, fui dar uma geral no carro, pois
com a trepidação das estradas de terra (costelas), a bagagem que não sai do
carro estava toda bagunçada no porta-malas.
Além disso, as presilhas dos fios das antenas dos
rádios-comunicadores arrebentaram e eles (os fios) ficaram presos entre a
borracha de vedação e a tampa da mala, deixando que bastante poeira entrasse no
carro. Troquei as presilhas por novas, dei uma limpada na poeira e lavei vidros
e espelhos.
Uma coisa interessante que observei é que, mesmo não estando
muito frio naquela hora da limpeza do carro, após o momento em que eu molhava o
pano e as mãos (a água também não estava fria), parecia que ia congelar com o
contato com o ar frio.
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