5º DIA – 23.09.2008 – 3ª
feira
(ARGENTINA: Salta)
Acordamos às 6 h, mesmo não
tendo compromisso para hoje. O céu está bem claro e parece que vai esquentar,
apesar de ainda estar friozinho. É sempre assim, começa frio e esquenta ao
longo do dia.
Descemos para tomar café
às 8 h e descobrimos que já era 9 h, pois o nosso relógio-despertador não está
marcando a hora corretamente.
Para a minha decepção, o
café, apesar de ter sido informado que era do tipo buffet, não tinha queijo,
presunto nem frutas, apenas pão de caixa (pão de forma), croissant (chamado
aqui de meia-lua), suco de laranja e manteiga.
Depois do café fomos, a
pé, até concessionária Toyota, onde o Marcio comprou algumas peças para a
Hilux, pois os preços chegavam a ser metade dos praticados no Brasil. Além
disso, também encomendou outras que não tinham para pronta-entrega, para
pegarmos quando voltarmos do Chile.
Saímos de lá e, na volta
para o hotel, passamos num mercado onde compramos maçãs, peras, presunto, queijo
e pão. Achei os preços das frutas meio caros, e acho que é por isso não têm nos
hotéis onde ficamos até agora.
Parte dessa comida será
usada amanhã no passeio de dia inteiro que faremos.
Achamos muito fácil
andar aqui com um mapa na mão. Além disso, a cidade é bem plana o que facilita
andar a pé.
O trânsito é meio ruim e
os carros de passeio são velhos e movidos à diesel, o que contribui para a
poluição sonora e química.
Deixamos as compras no
hotel e fomos fazer um pouco de turismo.
Fomos ao Cerro São Bernardo, próximo ao hotel. Para
chegar lá, pegamos um teleférico da Praça San Martin até o topo, de onde
se tem uma boa vista de Salta, que é bem plana mesmo. Lá existe uma cascata
artificial, uma área de alimentação e de lazer. Valeu a visita!
Vista de
Salta do Cerro São Bernardo
Descemos
e eu fui conhecer o Museu de Altas Montanha
(MAAM), enquanto o Marcio retornou à Concessionária Toyota para encomendar
uma peça que esqueceu de pedir de manhã.
A visita ao museu vale a
pena, pois lá existem expostas três múmias incas, encontradas em montanhas
acima de 5 mil metros. Para resgatar essas múmias foram feitas expedições
árduas.
Os maias ofereciam seres
humanos em sacrifício na montanha, para que eles ficassem mais perto dos deuses
deles e a graça pudesse ser alcançada.
É interessante, pois mostra
um pouco da história inca, um povo que existiu do sul da Venezuela até o sul do
Chile.
A região de Salta tem
muitas montanhas. Parece que há mais de 70 na Argentina, 30 delas só por aqui.
Em seguida, fui conhecer
a Catedral de Salta, vizinha ao museu,
bem ao estilo europeu, com muito ouro e pé direito alto.
Catedral de
Salta
O povo aqui é bastante
católico. A influência espanhola é total. Acho que não praticam nem outras
religiões por aqui.
Às 19 h, conforme
combinado, encontrei o Marcio na Praça 9 de Julio. Ainda era dia. Lanchamos
e fomos procurar óculos escuros para ele usar amanhã, pois o dele foi quebrado
quando sentou em cima logo no primeiro dia de Argentina.
Achamos um que servia numa
ótica, e lá se vai mais dinheiro com óculos escuro!
No caminho, achamos uma
loja de sapato, onde o Marcio comprou um mocassin de couro por um preço bem em
conta.
Retornamos para o hotel
e agora é dormir. Amanhã teremos o nosso primeiro dia de passeio.
Acréscimos
do Marcio
Fomos a pé até a Concessionária Toyota Autolux, uma caminhada
de uns trinta minutos.
No trajeto, passamos por diversas lojas de autopeças, inclusive
de motos. O pneu para a minha moto estava custando metade do preço que o cobrado
no Brasil, mas a marca existente não era conhecida minha e fiquei com medo de
comprar.
As peças da Hilux estavam baratíssimas. Para se ter uma idéia,
no Brasil os amortecedores traseiros custam R$ 435,00/cada. Na Argentina eles
custaram o equivalente a R$ 450,00 o par.
Aproveitei para comprar as borrachas de vedação de todas as
portas e a do porta-malas, correia dentada, tensor da correia dentada, porca anti-furto
para as rodas, velas incandescentes do motor etc.
O atendimento na Autolux foi feito pelo Sr. Ivan, que foi
muito atencioso e paciente com a dificuldade do idioma e com a demora com os
cálculos que eu fazia antes de confirmar que queria a mercadoria.
Na Autolux, assim como em alguns outros lugares, havia um
daqueles bebedouros que utilizam garrafões de 20 litros de água
mineral. A diferença para os nossos é que a segunda torneira no deles é de água
quente (fervendo), para fazer chá.
Na Argentina, o nosso GM Celta é vendido como SUZUKI Fun. É
o mesmo carro, mas com a bandeira de outra montadora, semelhantemente ao GM
Tracker, que nada mais é que o SUZUKI Grand Vitara.
As tomadas na Argentina são semelhantes às da Austrália e às
da Nova Zelândia, com três pinos em forma de “Y”. A energia elétrica, apesar de
ser 220 Volts, acho que opera com 50 Hertz (no Brasil é 60 Hertz), pois nosso
rádio-relógio estava sempre com a hora atrasada em relação à colocada. Até o
fim da viagem vou tentar confirmar isso.
6º DIA – 24.09.2008 – 4ª
feira
(ARGENTINA: Salta – Povoado de Cachi)
Acordamos
às 5h30. De matar, mas necessário. A empresa de turismo – La Posada -- ficou de
nos pegar às 7 h.
Tomamos café, dessa vez
com queijo, presunto, fruta e bolo, tudo comprado ontem por nós.
Aqui amanhece bem tarde,
às 6h30.
A empresa só passou às 7h30,
e seguimos para o povoado de Cachi, ao norte de Salta. O motorista chamava-se
Adolfo; a guia, Dafna, era canadense, já tinha morado na Costa Rica e estava na
Argentina há um ano e meio.
A van, Kombi para eles,
estava bem cheia. Tinha gente da Dinamarca, da Espanha, da França, de outros
lugares da Argentina e nós.
No caminho para Cachi
passamos por alguns lugarejos e por alguns produtores de tabaco. A indústria do
fumo é forte aqui na região, e, do que é produzido aqui, 80% é exportado. Por
isso que se fuma muito aqui! Chega a ser insuportável.
A paisagem mudava à
medida que a altitude aumentava. Com muitas curvas sinuosas e alguns trechos de
terra, passamos por lugares lindos e bem pitorescos, lembrando um pouco a Nova
Zelândia e a Suíça, por causa das montanhas.
Paramos em alguns pontos
mais bonitos para fotos, para café e para o xixi. Em alguns lugares daria
perfeitamente para fazer filme de faroeste mexicano, pelos cactos gigantes, chamados
de cardones.
Cardones - Cactos
gigantes
Um dos pontos altos do
passeio foi a visita ao Parque Nacional
dos Cardones, no mínimo diferente!
Paramos numa comunidade
para comprar alguns artesanatos (artesanías, em espanhol), e fiquei
imaginando como aquelas pessoas vivem ali, naquele ambiente inóspito. Não tem
lagos formados pelo degelo, apenas um rio correndo com bem pouca água. Deve
existir um meio de fornecimento de água para as plantações.
Quando começou a aumentar
a altitude, a guia nos falou sobre a folha de coca, para minimizar os efeitos
da redução da pressão ambiente. Disse para colocarmos umas três folhas no canto
da boca e mascarmos de vez em
quando. Assim eu fiz.
Segundo ela, para se
produzir de 1 g
de cocaína são necessários 90
kg de folhas.
Eu fiz como recomendado,
mas acho que não adiantou muito, pois a altitude em alguns trechos passou dos 3.300 m e, num momento
quando eu me agachei para pegar uma coisa no chão e levantei, tive a maior
tontura. A minha pressão deve ter caído e não subiu a tempo.
O Marcio não usou a
folha de coca e não sentiu nada. Imagino que para montanhistas é que a coisa é
difícil, pois ainda há o esforço físico.
O povoado de Cachi é bem
arrumado. Pequeno e no meio do nada, com lojinhas de artesanatos locais e com um
museu arqueológico que possuía algumas peças interessantes.
Inscrição
rupestre no museu arqueológico de Cachi
O almoço foi numa Bodega
próxima ao povoado, chamada Sala de Payogasta. Muito legal, por estar
no meio dessa paisagem e por estarmos mais próximos do povo que vive na região.
Comemos berinjela
empanada com um cereal local e uma panqueca de ricota de queijo de cabra. Tudo
regado com vinho cabernet da região. De entrada, tivemos pães, pastas e picles.
Como os pães são bons por aqui!
Parada para
almoço próximo a Cachi
Um casal argentino que
estava conosco à mesa nos disse que na província de Buenos Aires já há uma
guerra contra o fumo, mas que em Salta ainda não, até mesmo por eles serem os maiores
produtores.
Chegamos de volta à
Salta antes das 19 h. Saímos para jantar na Praça 9 de Julho e retornamos para
dormir logo.
Amanhã teremos outra
maratona. Parece que o lugar é mais lindo ainda! O duro é que não conseguimos
dormir cedo. Estou bem cansada.
Acréscimos
do Marcio
A guia Dafna já tinha visitado o Brasil e arranhava um pouco
o português. Muito simpática, dava a maior atenção a todos, fazendo a narrativa
em espanhol e em francês.
No nosso tour havia duas meninas dinamarquesas que já estavam
viajando há quatro meses. Passaram um tempo no Peru somente para aprender o
espanhol. E olha que elas falavam muito bem a nova língua!
No nosso planejamento, a ida ao povoado de Cachi seria no nosso
carro, quando de lá seguiríamos até Cafayate, cidade das vinícolas, para,
então, partirmos para San Pedro do Atacama. Dessa forma foi diferente, mas
também foi bom e tivemos a oportunidade de conhecer outras pessoas.
7º DIA – 25.09.2008 – 5ª
feira
(ARGENTINA: Salta - Santo Antonio de Los Cobres)
Mais uma vez acordamos
antes das 6 h, para aguardar o transporte para o nosso passeio.
Tomamos o café, e às 7h40
a operadora chegou para nos pegar.
A van estava cheia. Tinha
gente da França, da Inglaterra (Londres), da Espanha e da própria Argentina. O
motorista era o Roberto; a guia, Noemi, que era francesa e há três anos morava
na Argentina.
Começamos o passeio pelo
trajeto do Trem para as Nuvens (Tren a Las Nubes), que vai de Salta em direção à fronteira com o Chile. O
traçado é belíssimo e passa por várias pontes de ferro com visuais das
montanhas.
Vimos gradativamente as
mudanças na geografia das montanhas e na vegetação. Um passeio imperdível!
Fomos a quase 4.200 m, o que me deixou
com um pouco de aperto na cabeça e tontura quando fazia alguns movimentos
bruscos e maiores, apesar das folhas e do chá de coca.
Ponto de
maior altitude (4.170m) na estrada da Província de Jujuy
Curvas
sinuosas a 4.170m - Província de Jujuy
O Marcio não sentiu
absolutamente nada. O chá de coca foi tomado numa comunidade a 3.000 m, ponto de parada e de
apoio para o grupo.
Pelo chá pagamos AR$ 2,50
(US$ 0,81) a xícara. Uma espanhola que estava na van conosco disse-me que eles
acrescentavam bicarbonato ao chá, mas isso não foi confirmado pela senhora que
nos vendeu.
Rodada de
chá de coca para amenizar os efeitos da alta altitude
Vimos várias casinhas de
pau a pique e com teto de esterco de vaca com barro (adobe).
Visitamos
uma área de sal imensa, as Salinas
Grandes, que acreditam ser originada do mar que havia ali, antes de
trabalhos tectônicos que teriam ocorrido.
Salinas
Grandes - Argentina
Na Salina Grande havia trabalhadores fazendo artesanato, totalmente
vestidos, só com os olhos de fora, para proteção contra a claridade que é bem intensa.
Pareciam aqueles guerrilheiros vestidos para entrevista na televisão.
Artesão na
Salina Grande - Argentina
Dá para sentir um ardor
nos olhos, e como se bronzeia pelo reflexo da luz do sol no sal. Interessante!
Tudo a mais de 3.000 m
de altitude.
Vimos lhamas, um misto
de ovelha e camelo, e vicunhas, parecidas com as lhamas, mas menores, e que só
existem em altitudes superiores a 3.200 m. Adorei as duas! Como vimos jumentos
também!
Quando o passeio é feito
no Trem para as Nuvens (Tren a Las Nubes), passa-se por 21 túneis e por 31 pontes de ferro.
Visitamos um sítio
arqueológico com ruínas de um povoado construído pelos atacamenhos. Tudo com
mais de 500 anos e bem preservado, em pedra e a mais de 3.000 m.
Ruínas de
cidade de pedras - Argentina
Almoçamos num povoado
chamado Santo Antonio de Los Cobres,
onde eu comprei um xale de lã de lhama.
No retorno à Salta
descemos de 4.200 m
para 2.000 m
em apenas 20 Km de estrada. O trecho é belíssimo, com várias curvas e visuais
deslumbrantes.
Notamos que os cardones
(uma espécie de cacto), só começam a aparecer em alturas menores. Soubemos
também que eles só dão uma flor por ano, branca, e que esta dura só um dia.
Finalizamos com uma parada
no povoado de Purmamarca, a 150
Km de Salta, famoso pelos morros coloridos e por muitos
artesãos vendendo roupas de lã de lhama e peças de cerâmica. O artesanato é bem
explorado por aqui.
Cerro de Siete
Colores em Purmamarca - Argentina
Praça com artesanato
em Purmamarca - Argentina
Quando estávamos
próximos a Salta, a guia agradeceu a todos por estarem com eles, perguntando ao
grupo o que tinham achado do passeio. Todos se manifestaram positivamente,
agradecendo por tudo.
Achei a guia Dafna mais
atenciosa e mais pontual do que esta. A empresa La Posada é boa e valeu o dia.
No passeio, não cruzamos
com o trem, pois hoje não tem saída, só às quartas, sextas e domingos. Entretanto,
o trajeto foi demais!
Chegamos ao hotel quase às
21 h e rodamos uns 500 Km.
Guardamos parte da
bagagem no carro, para facilitar a saída amanhã. Eu tomei banho e preferi
lanchar qualquer coisa no quarto mesmo; o Marcio preferiu comer uma pizza no
restaurante La Fiamma,
perto do hotel.
Descobri que quando o
Marcio fez o backup das fotos para o laptop, as das Salinas Grandes foram
perdidas. Que merda!
Amanhã iremos rumo ao
Atacama e no caminho passaremos de novo pelas salinas, quando tiraremos novas
fotos. Acidentes!
Parte do trajeto feito hoje
será repetida, pois é tudo perto da fronteira com o Chile, para onde iremos.
Agora é dormir.
Acréscimos
do Marcio
O casal de espanhóis (Ricardo e Sílvia) resolveu ficar no
povoado de Purmamarca. Acho que eles não planejaram isso, pois estavam apenas
com uma mochila. A bagagem principal deve ter ficado no hotel em Salta.
A empresa de turismo adotava uma técnica para quebrar o gelo
no início do passeio e interar as pessoas. A guia se apresentava e ao
motorista, pedindo que cada turista fizesse o mesmo.
Quando estávamos no último trecho do passeio, serviram uns
doces recheados com doce de leite. Em espanhol chamavam de “empanadillas”, e
eram gostosos.
Nosso último pit stop foi em um posto de gasolina (estación
de servicio) na cidade de San Salvador de Jujuy. Creio que além de ser para
todos aliviarem a bexiga, também para o motorista dar uma relaxada, já que
estava ao volante desde às 6 h.